Discurso de Mário Cunha Reis

XXIX Congresso do CDS-PP, Guimarães, 2 de Abril de 2022
Discurso de apresentação da Moção de Estratégia Global “Recomeçar pelas Bases”
por Mário Cunha Reis, Porta-Voz da TEM Esperança em Movimento


Exmo. Senhor Presidente do Congresso,
Estimado Dr. Martim Borges de Freitas,

Exmo. Senhor Presidente do CDS-PP
Dr. Francisco Rodrigues dos Santos,

Exmos. Senhores Membros de Governo das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores,
Exmos. Senhores Presidentes do CDS Madeira e do CDS Açores,

Exmos. Senhores Presidentes de Câmara, Vereadores e demais autarcas,
Exmos. Senhores Dirigentes Nacionais, Distritais e Concelhios,

Exmo. Senhor Presidente da Concelhia do CDS de Guimarães, nosso anfitrião,

Exmo. Senhor Presidente da Juventude Popular,
Exmo. Senhor Presidente da Federação dos Trabalhadores Democrata-Cristãos,

Caros dirigentes e membros da TEM Esperança em Movimento, que durante quatro anos de existência tive a honra de representar,

Exmo. Senhor Prof. Manuel Monteiro, antigo Presidente do CDS-Partido Popular,
e estimado amigo, a quem saúdo calorosamente. Que bom vê-lo entre nós.
Seja bem vindo à sua casa de sempre!

Senhores e Senhoras Congressistas,
Caros amigos, é um prazer recebê-los a todos em Guimarães.

O CDS fundado em 18 de Julho de 1974, completará dentro de poucos meses 48 anos de existência.

Surgiu como um “corpo político” estranho, num país dominado por um poder político-militar de esquerda, que logo nos primeiros passos do regime democrático rejeitou o projecto de sociedade socialista, afirmando o humanismo personalista: «porque ele é, mais do que qualquer outra ideologia, o melhor caminho através do qual se procura combater a exploração e a opressão do homem pelo homem», comforme se pode ler na Declaração de Princípios do CDS.

O CDS então foi como uma “macieira” que, a muito custo, “pegou de estaca”, robusteceu-se pela exigência daqueles tempos e logo após a sua primeira “floração” produziu a maior e porventura a melhor “colheita” de que temos memória.

Memória distante, de uma bancada parlamentar de inegável qualidade, com 42 deputados, que muito poucos dos que aqui se encontram puderam testemunhar.

O CDS de hoje é bem diferente daquele CDS.

No CDS de então, os “homens bons” de cada terra representavam e davam credibilidade e prestígio ao CDS.  Mantinham uma relação de proximidade com as populações. Conheciam as pessoas pelo nome. Conheciam bem os seus problemas e as suas aspirações.

Em resultado de uma certa forma de fazer política, que privilegiou o controlo do poder interno (com recurso a “chapeladas”, “sindicatos de voto” e outras tácticas eticamente reprováveis), esses homens e mulheres que davam prestígio ao CDS afastaram-se. O oportunismo tomou-lhes o lugar e fez escola.

Temos hoje sedes com a porta fechada, sem dirigentes reconhecidos, sem estudo e iniciativa política relevante, sem militância activa, sem reuniões, sem eleições participadas, sem contacto com as pessoas comuns e trabalho de terreno com as forças vivas das comunidades.

Os militantes têm que ser mais exigentes para com os dirigentes e os eleitos. Os dirigentes concelhios têm que ser mais exigentes para consigo próprios, para com os seus pares, os eleitos e os militantes. Os dirigentes distritais têm que ser mais exigentes para consigo próprios, para com os seus pares, os dirigentes concelhios e nacionais. Os dirigentes nacionais têm que ser mais exigentes para consigo próprios, para com os seus pares, os dirigentes distritais e concelhios.

Caros amigos,

No CDS de então – o CDS do meu pai -, o respeito entre as pessoas, a cortesia, a boa educação eram marcas identitárias do CDS, bem representada nas figuras fundadoras, entre as quais o Professor Diogo Freitas do Amaral e o Engenheiro Adelino Amaro da Costa, mas também de muitas outras que lhes sucederam, como o Professor Francisco Lucas Pires ou Professor Adriano Moreira. Bons exemplos e referências, que deveriam ser para todos nós.

Lamentavelmente, temos hoje, no espaço público das redes sociais, discussões estéreis e degradantes, comentários difamatórios e insultuosos, captados por alguma imprensa, sobretudo quando são instigados ou envolvem dirigentes, ex-deputados e até ex-governantes, que não são próprios de um partido que se afirma democrata-cristão, e que em nada dignificam o CDS ou os próprios.

Isto nada tem de democrático e menos ainda de cristão.

A democracia não é isto. A democracia assenta no respeito mútuo, sobretudo perante a divergência, mas também no reconhecimento da legitimidade conferida pelo voto.

Perante situações como as que acabo de descrever, os órgãos disciplinares do CDS têm que estar mais atentos, ser mais interventivos, mais capazes, mais céleres e mais exigentes.

Todos nós temos de ser mais exigentes, se queremos que o CDS sobreviva e comece a partir de hoje uma trajectória de recuperação e crescimento.

Pois uma casa «dividida contra si mesma não subsistirá»
Mt12:25.

Caros Congressistas,

Depois de mais de uma década de descaracterização, de relativização de alguns dos seus valores fundamentais, de tentativa de transformação do CDS num partido (mais) liberal na economia e nas questões da moral social, favorecendo, por acção dúbia ou tibieza, a agenda fracturante esquerdista no parlamento, a maioria do seu eleitorado tradicional deixou de considerar-se adequadamente representada.

A participação do CDS no Governo de coligação com o PSD, num dos períodos mais difíceis da história recente de Portugal, após a situação de bancarrota a que nos conduziu o Partido Socialista, penalizou-o fortemente, nuns casos justa e noutros injustamente, deixando algumas más memórias que o eleitorado não compreendeu ou não perdoou.

A adesão a uma visão globalista da governação do mundo nas suas mais variadas vertentes, económica, financeira, social, política, cultural, etc., que não atenta às características intrínsecas dos países, dos povos e culturas, a uma progressiva (e tida como inevitável) integração política europeia, da qual resulta a perda de soberania nacional, eufemisticamente referida como “partilha de soberania”, em áreas vitais para o interesse nacional, nalguns casos inconciliável com interesses dos parceiros europeus, como a política diplomática e económica, de segurança e defesa, energética e alimentar, relativa à soberania e jurisdição territorial e marítima, sem exigência de debate ou auscultação pública, representou para muitos o abandono de um espaço político que permanece por ocupar.

Todos terão certamente consciência de que nos últimos 11 anos, desde 2011, o CDS-PP perdeu mais de meio milhão de votos, o que corresponde a 86,8% do seu eleitorado em legislativas nacionais, tendo perdido primeiro 6, depois 13 e por fim 5, dos seus 24 deputados.

Caros Congressistas,

Com uma irrealista de tornar o CDS uma alternativa de governo, gastou-se o que não havia para gastar, delapidando património e contraindo dívida, que hoje condicionará fortemente a capacidade para recomeçar.

O caminho que foi seguido e os resultados obtidos devia ter-nos levado a uma reflexão profunda sobre as causas raiz do declínio, sobre as reais necessidades actuais e futuras do país, em que medida e de que forma pode o CDS ser útil para a melhoria das condições de vida dos portugueses.

Preferimos saltar essa etapa e passar rapidamente à escolha de uma nova liderança. Foi pena, porque sem percebermos o que nos aconteceu, dificilmente saberemos como sair da situação em que nos encontramos.

A verdade é que o nosso partido está hoje perante uma encruzilhada, da qual podemos sair, cuidando o que permanece, renovando e crescendo, ou «caso não seja viável», podemos atalhar caminho e «ponderar a sua extinção», como propôs o Dr. Diogo Feio, ou simplesmente decretar-lhe a morte, como o fez o antigo ministro do CDS, António Pires de Lima.

A decisão é nossa e vossa, mas mantenho a esperança de que no dia seguinte a este congresso, essa reflexão profunda que se impõe seja feita, com a necessária reserva, à porta fechada, envolvendo os principais protagonistas das últimas décadas, com humildade, maturidade e sensatez.

Caros amigos,

Aqui chegados, sem representação na Assembleia da República, após dois anos consumidos num lamentável clima de guerrilha interna, mas ainda assim com presença nos dois Governos Regionais, com seis presidências de câmara e participação no governo de 41 câmaras municipais, cabe à próxima presidência do CDS-PP pacificar o partido, juntar-lhe os cacos e realizar um trabalho árduo de reestruturação financeira, organizacional, estatutária, comunicacional, de renovação da militância activa e da revitalização das suas estruturas de base, as concelhias e distritais, em estreita colaboração com a vasta rede de autarcas existente por todo o território nacional.

Precisamos de recuperar a confiança do nosso eleitorado perdido.
Precisamos de recuperar o seu respeito.
Precisamos de recuperar o respeito institucional, pela nossa casa, pelo legado que nos foi transmitido.
Respeito pelos nossos dirigentes. Respeito pelos militantes.
Respeito pelo cargo que transitoriamente se ocupa.
Pelas pessoas que se representa.

Trabalho, trabalho, muito trabalho.

O CDS-PP precisa, para isso, de uma presidência capaz de restaurar a credibilidade da instituição, honrando os compromissos financeiros assumidos e as responsabilidades para com aqueles que o serviram, respeitando o legado patrimonial tangível e intangível, tomando decisões de gestão com transparência e lisura de processos e acautelando os reais interesses do partido, sem deixar de ter presentes os seus valores e princípios fundacionais, que sempre devem orientar a conduta de todos os militantes e, por maioria de razão, os seus dirigentes.

Caros amigos,

Não tenho qualquer dúvida que o CDS faz falta a Portugal, que Portugal e os portugueses precisam do CDS. Precisam mais do que nunca do referencial do humanismo personalista e do contributo político da democracia-cristã.

Não tenho qualquer dúvida que o CDS vale pena, que o esforço que todos precisamos de fazer vale a pena.
Por isso mesmo, estou cá e estarei cá.

O momento presente é um momento de recomeço, que nos convoca a todos, dirigentes e militantes, começando pelas bases.

Mesmo que o mundo possa acabar amanhã, sempre haverá alguns – como os que me acompanham – que continuarão a plantar macieiras!

Viva o CDS.
E sobretudo e sempre, Viva Portugal!

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