Cristas ouve críticas e promete assumir responsabilidades pelos resultados das eleições

por Mariana Lima Cunha/Expresso

Num Conselho Nacional a que parte dos críticos internos faltou, líder conseguiu aprovar listas de deputados por 82%. E mostrou-se confiante nos resultados de outubro

O ambiente no partido não prometia um Conselho Nacional sem percalços para Assunção Cristas. Entre as sondagens que preveem maus resultados para outubro, as críticas à forma como o próprio Conselho Nacional foi marcado em cima da hora e às últimas decisões sobre as listas de deputados, sabia-se que a líder teria alguns obstáculos para enfrentar. Mas a noite acabou com boas notícias para a direção – as listas foram aprovadas por 83% dos votos – e uma garantia: Cristas irá assumir as responsabilidades políticas pelos resultados que o CDS obtiver em outubro.

À partida, um fator ‘descafeinava’ o Conselho Nacional: o maior grupo de críticos internos com assento (18,5% dos lugares) no Conselho Nacional, encabeçado pelo ex-deputado Filipe Lobo d’Ávila, decidiu não marcar presença na reunião desta quinta-feira. Desde logo porque a própria marcação do Conselho esteve envolta em polémica: Abel Matos Santos, porta-voz de outra corrente crítica de Cristas (a Tendência Esperança em Movimento), chegou a criticar publicamente a direção por não ter previsto um Conselho Nacional tendo em vista a aprovação das listas de deputados do partido.

A reunião acabou por ser convocada logo de seguida. Uma decisão que deixou dúvidas junto dos críticos internos: “Este Conselho Nacional foi marcado para evitar um escândalo político em curso: tencionavam aprovar as listas na comissão executiva”, explica ao Expresso Raul Almeida, ex-deputado e afeto ao grupo de Lobo d’Ávila, que tem estado presente numa série de encontros com dirigentes de estruturas críticas de Cristas que já visam preparar um futuro pós-outubro.

Assim, a crítica interna ficou a cargo de Abel Matos Santos, que fez questão de estabelecer metas para a direção e elevar a fasquia para outubro, confirmou o Expresso junto de várias fontes presentes na reunião.

“Não estou preocupado com as sondagens porque o ponto de partida do CDS são 21% em Lisboa e 18 deputados a nível nacional”, salientou, num momento em que as sondagens atribuem cerca de 5% de intenções de voto aos centristas. “Dia 6 de outubro saberemos quanto vale o seu eleitorado. E a senhora terá de assumir a sua responsabilidade”, desafiou.

Entre muitas críticas às ideias que o partido tem apresentado tendo em vista o programa para as legislativas – por um lado por não haver uma “orientação global” que distinga o partido, por outro por o programa não ter sido distribuído com antecedência pelos conselheiros nacionais, que se transformaram em “ratificadores nacionais” – e ao processo de formação das listas, Matos Santos concluiu: “Ficou patente desde as europeias que a grande oposição à direção do CDS é a própria direção”.

Apesar de mais algumas intervenções críticas – fosse de concelhias como Sintra, Leiria ou Viana por discordarem da formação das listas de deputados ou de outros críticos internos que associaram Cristas a posições tradicionalmente menos conservadoras, como a defesa do casamento homossexual e das quotas para mulheres – a aprovação das listas não trouxe problemas à líder. Já de madrugada, os nomes (ou as propostas feitas pelas distritais, uma vez que a quota da direção nacional já era conhecida) ficaram aprovados com 83% dos votos dos conselheiros presentes.

Cristas não deixou os críticos sem resposta. Tomando a palavra na reunião, assegurou que se irá responsabilizar politicamente pelos resultados das próximas eleições. E desafiou Matos Santos a ir a jogo no próximo Congresso do partido. Se tudo correr bem, Cristas também lá estará, como recandidata – mas para isso será preciso que 6 de outubro lhe traga notícias melhores do que as últimas sondagens.