Conselho Nacional do CDS | Reunião Extraordinária
Lisboa, 30 de Maio de 2018
Intervenção por Mário Cunha Reis
Senhor Presidente do Conselho Nacional
Senhora Presidente do CDS
Senhores Conselheiros
Caros amigos,
Gostaria de começar por saudar o Nuno Melo e felicitá-lo pela sua eleição como Deputado do CDS ao Parlamento Europeu, sabendo que teve que enfrentar uma campanha particularmente difícil, não só pelas perturbações políticas que se viveram antes e durante o período de campanha, mas também pelo clima adverso que se vive dentro do partido, em várias das estruturas concelhias e distritais.
Pelo seu esforço e empenho, o nosso bem-haja!
Senhora Presidente,
O CDS perdeu entre o acto eleitoral de 2011, em que o CDS concorreu sozinho, e o presente, mais de 93 mil votos. Em 2011 o CDS obteve 8,36% de votação (2 mandatos) e em 2019 o obteve 6,2% (1 mandato).
Mais do que qualquer consideração sobre a abstenção, que, certamente, afecta mais os partidos de menor dimensão, importa perceber quais os motivos que contribuíram para uma diminuição tal dos votos.
A senhora, enquanto Presidente do Partido, é responsável pelo clima interno que se vive no partido, e também pelos resultados.
Pergunto:
Qual foi a vantagem de ter anunciado com um ano de antecedência o nome dos principais candidatos ao Parlamento Europeu?
Que trabalho foi feito pelo Partido como forma de projectar a imagem de capacidade e competência dos candidatos durante este ano?
Quantas reuniões foram realizadas com as entidades do sector social?
Quantas reuniões foram realizadas com think tanks, com a comunidade académica e com outras instituições que produzem conhecimento na área da política internacional e da política europeia?
Quantas reuniões foram realizadas com as entidades que pertencem ao cluster do mar? Empresas, associações empresariais, estruturas associativas do sector das pescas, da energia, da biotecnologia, na indústria, na academia. O que feito da nossa bandeira da Economia do Mar?
Qual foi o trabalho realizado pelo secretário-geral durante este ano, junto das estruturas?
Quantas reuniões o secretário-geral realizou com as concelhias e com as distritais, para os auscultar e lhes transmitir o argumentário para a esta campanha?
Quantas reuniões fez para coordenar as acções de campanha, assegurando a mobilização dos dirigentes e dos militantes?
Senhora Presidente,
o trabalho que tinha que ser feito não foi feito, e a responsabilidade é, em primeiro lugar, sua.
A responsabilidade é também do Secretário-Geral, que acumulou a função de Director de Campanha das Europeias. Não reúne com as estruturas, não dialoga, não lhes presta atenção, tratando-as muitas vezes como meros instrumentos.
Não tem o perfil dialogante e de proximidade necessário.
Não reúne, portanto, as condições para se manter como Secretário-Geral.
Senhora Presidente,
Qual foi a vantagem de anunciar as listas para a Assembleia da República antes das Europeias? Nenhuma.
O Partido está a viver um período de convulsão interna, em Viana do Castelo, em Braga, no Porto, e noutros distritos, onde ocorreram demissões e onde virão a ser conhecidas mais nos próximos dias, porque não houve diálogo, nem vontade de acolher as legítimas aspirações das estruturas.
Dirigentes e militantes estão desmoralizados e não têm qualquer entusiasmo para a mobilização e para o combate político.
Por outro lado, pergunto:
Que combate foi feito e está a ser feito na Assembleia da República ao “politicamente correcto”?
Que combate está a ser feito às políticas animalistas?
Que combate está a ser feito à “ideologia de género”, que, entretanto, passou a ser liderada por um sector do PSD, não obstante os inúmeros alertas feitos pela TEM, em vários momentos, nos órgãos do partido?
Que combate político está a ser feito nos órgãos de comunicação social, na imprensa e na televisão?
O que vemos é a esquerda e a extrema-esquerda a ocupar todo o espaço mediático a discutir política, enquanto alguns dos nossos andam entretidos a discutir futebol.
Senhora Presidente,
O CDS perdeu parte importante do seu eleitorado. Mais de 30%.
Esta perda deve-se, na minha opinião, à falta de clareza na afirmação de valores e à falta de definição clara de bandeiras que o CDS sempre teve e deixou de ter.
Deve-se à sua tentativa de sedução de um eleitorado ao centro.
Um centro que está e sempre esteve ocupado pelos partidos da alternância.
O nosso eleitorado está na área do centro para a direita.
E é na direita, na direita democrática, mas convicta, que o CDS deve posicionar-se de forma clara.
Não cabe ao CDS defender bandeiras que não são as suas, e que, muitas vezes, conflituam com a sua estrutura de valores.
Porque o tempo é escasso, aponto apena três momentos políticos que resultaram na perda de votos:
1) A oposição feita ao Governo da Hungria e ao partido do Governo, quer pela votação favorável ao Relatório Sargentini (elaborado por uma eurodeputada da esquerda, dos verdes), em Setembro de 2018, quer pelo pedido de expulsão do Fidesz do PPE, um partido europeísta mas anti-federalista, como nós, em Fevereiro passado. Não se compreende.
2) O caso das passadeiras LGBT em Arroios. Um caso que não acontece por mero acaso, mas pela permissividade da direcção nacional relativamente aos activismos LGBT, uma bandeira da esquerda progressista e dos liberais, a que, por vezes, parece que o CDS pretende aderir.
3) Por último, a “trapalhada” da negociação dos professores, que não se compreende.
São três momentos, entre vários outros, que afastaram os eleitores europeístas mas soberanistas, os eleitores democrata-cristãos e conservadores, mas também daqueles que desde a bancarrota socialista perderam uma boa parte do seu rendimento disponível, e que não aceitam qualquer medida que aumente, sequer potencialmente, a carga tributária.
Senhora Presidente,
Assumiu o compromisso de liderar um projecto político para quatro anos.
Tem o dever e a responsabilidade de levar o CDS às eleições legislativas e obter um bom resultado para todos nós.
Dialogue com as estruturas e corrija o que houver a ser corrigido.
Reúna uma direcção de campanha experiente,
Adapte a estratégia e corrija a linha política de modo a ir de encontro às expectativas de um eleitorado menos liberal e mais conservador.
Se o fizer, acredito sinceramente, que obteremos um bom resultado.
Disse.
Mário Cunha Reis
Conselheiro Nacional do CDS
Membro da Comissão Executiva da TEM
Ordem de trabalhos
1. Aprovação das Contas 2018 | Aprovadas, com 12 abstenções e 9 votos contra; TEM votou contra (ver Requerimento)
2. Análise dos Resultados das Eleições Europeias
Fora da ordem de trabalhos: Voto de Louvor à JP – Juventude Popular, proposto por Mário Cunha Reis
Documentos
Requerimento para alteração da ordem de trabalhos, apresentado por Mário Cunha Reis
Análise dos Resultados das Eleições Europeias, por Mário Cunha Reis
Voto de Louvor à JP – Juventude Popular, proposto por Mário Cunha Reis
O CDS está ferido de morte e os Democratas Cristãos não se revêm no rumo que esta Líder deu ao Partido.
A maioria de nós, apenas votou em Nuno Melo e Cecília Meireles que continuam a merecer a nossa cuidada atenção e a inspirar um «Futuro» ao Partido.
Após a «visita» de lenço à Mesquita,tem sido um desaire completo. Grande parte, passou-se para o PNR e os outros, envergonhadose reticentes, ou não votaram ou aliaram-se desperdiçando votos para a inutilidade, a André Ventura e Pedro Santana Lopes. Há ainda aqueles que desmoralizados,ficaram em casa. Assim não há futuro na Direita Cristã e de valores Patrióticos. Impôem-se a mudança para os valores e matrizes do Partido. Não podemos permitir que as esquerdas façam de Portugal a Nova Venezuela da Europa. Precisamos de Directas urgentemente!
Se isto continua assim, ver-me-ei obrigado a votar no BASTA! com o objetivo da demissão de Assunção Cristas e por um voto de protesto
Boa exposição.
Efectivamente, estas eleições, pelo que e expresso no texto e mais outras coisas, foram perdidas em virtude do CDS não se ter mostrado como a alternativa credível e capaz ao estado de marasmo e de subordinação a ideologias vermelhas/totalitárias, não sabendo cativar os 70% que não votaram.
Para quando uma tomada de decisões que encare os gaves problemas socias/financeiros de frente e consciencialize, cative, os abstencionistas?
É verdade que o CDS é uma sombra do que um dia foi. Tem no Parlamento bons, fracos e péssimos deputados. É verdade que o CDS não tem desde há muito um guião político e doutrinário claro. E issso vem de um tempo ainda anterior a Assunção Cristas.
Mas – e aqui falo com a autoridade de ter estado na criação do Partido e um dos quinze fundadores da JC, hoje denominada (sem qualquer razão de fundo por JP – a TEM deve estudar a história do CDS e lembrar-se que no momento da sua constituição e até 1985 o CDS não era um partido de direita mas de centro. Abrangia um leque importante dos pensadores, políticos, dirigentes e cidadãos da sociedade portuguesa e a democracia cristã não foi, na primeira década do Partido e não é, na Europa do século XXI, uma corrente de direita nem a única corrente representada nos fundadores e na Declaração de Princípios do CDS. No princípio, nos Fundadores encontrávamos um grupo de homens inteligentes e de coragem ( foi necessária muita coragem física e anímica para o CDS viver os muito difíceis anos de 1974, 75 e 76) que intelectual e doutrinariamente cobriam aquilo que hoje podíamos designar por conservadores de centro-direita, democratas-cristãos, alguns outros de centro esquerda e até os centristas puros com que Francisco Lucas Pires se identificava e a quem gostava de chamar, “o extremo centro”.
Para redinir o futuro há, primeiro, que conhecer o nosso passado e as nossas origens. Para mim faria sentido que o CDS estudasse cuidadosamente a CDU alemã e as suas correntes e doutrina e o Parido Conservador do Reino Unido. Ter uma doutrina em que os seus eleitores se revejam, ser um espaço aberto da direita conservadore ao centro-esquerda, ter uma alternativa identificadora e não casuística para apresentar aos Portugueses, isso é o fundamental. E sem isso o CDS não viverá muito mais .
Bom trabalho, boa sorte.
Carlos de Almeida Sampaio
A Assunção estava a fazer uma boa campanha, mas infelizmente parou repentinamente. O governo está mais frágil que nunca – operação teia, desemprego a subir, dívida a subir em 2 mil milhões… O CDS não é o PSD de Rui Rio para não fazer oposição; a Assunção tem que criticar o governo e mais que criticar dar garantias de como isto não aconteceria num governo CDS. O melhor que pode fazer é expor o fracasso e mostrar a maneira do CDS de resolvê-lo. Acredite que assim conseguia cativar os abstencionistas e vários votantes do PSD, não saindo do espectro do centro-direita mais virado para a direita que para o centro, que é isso que os votantes do CDS querem. Caso contrário, a melhor aposta será o retorno de Manuel Monteiro à ativa.